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Três lições de liderança de Ayres Britto

Ayres Britto, presidente do Superior Tribunal Federal (STF), nos deu lições simples e valiosas a respeito de três situações

Autor: Sílvio CelestinoFonte: Revista Incorporativa

Um gerente causa grandes transtornos, quando não estabelece regras claras, é rude e interrompe as ações de seu time a todo instante. Ayres Britto, presidente do Superior Tribunal Federal (STF), nos deu lições simples e valiosas  a respeito destas três situações

Estabeleça regras claras

Alguns gerentes não percebem que são claros somente para si mesmos. Recentemente observei um diretor determinar em uma reunião que, a partir daquele momento, todos os departamentos seriam responsáveis por todos os tipos de venda. Isso provocou uma grande confusão, pois a empresa vendia por meio de canais diretos e indiretos. Além disso, oferecia produtos padronizados de baixo custo e também projetos que incluíam soluções e serviços complexos. Ou seja, não havia como um departamento passar, de uma hora para outra, a vender todos os tipos de soluções, direta e indiretamente. Mas era isso que o diretor queria.

Ser claro significa ser compreendido por todo mundo, e não apenas por si mesmo. Ao definir regras, o líder deve antecipar-se aos problemas que irá enfrentar e, de forma inteligente, criar o conjunto de normas que deverão ser observadas. Isso facilita muito a gestão.

No início do julgamento do mensalão, Ayres Britto conduziu os trabalhos de forma a estabelecer que cada ministro do STF julgaria a seu modo o processo. Essa regra simples foi utilizada em vários momentos para resolver conflitos entre os juízes. Por mais contrariados que se sentissem, a observação da regra de forma constante e consistente permitiu a continuidade dos trabalhos.

Muitas vezes, a inobservância – ou a ausência – de normas e critérios objetivos e esclarecedores faz com que os conflitos aumentem e as crises se estabeleçam, a ponto de interromper as ações da empresa. Alguns diretores acham que lideram, quando pedem a seus gerentes que resolvam os problemas que tenham entre si, ou que definam questões estratégicas. O verdadeiro líder minimiza os conflitos por meio de regras claras e as utiliza como principal critério na solução de conflitos. Isso gera confiança e evita a interrupção de trabalhos.

A cordialidade como forma de gestão

É impressionante a quantidade de energia que é desperdiçada nas empresas. Isso ocorre principalmente quando líderes que, diante de uma adversidade, se tornam coercitivos, duros e mal-educados com todos. Eles empobrecem a relação com subordinados, criam constrangimentos e enfraquecem o vínculo deles com a empresa.

Foram muitas aulas de elegância, às vezes nas quais Ayres Britto, diante das desavenças entre os ministros do STF, aumentava o nível de cordialidade. Dirigia-se aos mais agitados com mais respeito e educação, conduzindo as ações para a finalidade desejada, que era possibilitar um julgamento justo e equilibrado.

Poucos líderes empresariais consideram a cordialidade uma importante ferramenta de gestão. Desperdiçam sua própria energia e de seus liderados com diálogos inapropriados, que, em alguns casos, beiram o assédio moral. Isso, definitivamente, não é necessário para preencher os propósitos de uma organização. Melhor fariam se aprendessem a dominar suas emoções e a dialogar de forma respeitosa, principalmente em meio a situações muito desfavoráveis.

Mova as ações para frente

As companhias possuem metas e resultados a ser alcançados. Entretanto, é impressionante o número de vezes nas quais ações são interrompidas. De problemas técnicos, como a falha no fornecimento de energia elétrica, a questões comportamentais, como a animosidade entre profissionais e líderes, tudo é motivo para interrupções. Isso causa desgastes que diminuem a qualidade de vida das pessoas nas empresas. Trabalhar não deveria ser uma tortura, mas, por vezes, é exasperante observar a demora para obter coisas que deveriam ser simples.

A grande vantagem de ter critérios e ser extremamente cordial é que essas duas competências facilitam encaminhar as ações para frente. Em muitos momentos do julgamento do mensalão, foi possível observar Ayres Britto determinar que um ministro desse prosseguimento a seu voto, mesmo que outro ainda desejasse falar. Se você tem um objetivo, deve ter uma enorme capacidade de mover as ações em direção a ele.

Embora tenha afirmado essas três competências em entrevistas recentes, o mais importante foi que Ayres Britto ofereceu inúmeros exemplos de como aplicá-las. Observar sua serenidade, elegância e estilo equilibrado na condução dos trabalhos do STF foi uma aula, não apenas de justiça, mas de liderança. Vamos em frente!